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quarta-feira, 20 de abril de 2011

SILÊNCIO, APESAR DOS PENSAMENTOS

Satsanga com Swami Dayananda Saraswati


PREPARANDO A MENTE
Para se criar uma condição na mente que capacite enxergar a Verdade sobre si mesmo, você deve remover todas as suas falsas noções. Com amor, você deve analisar e criticar as várias opiniões e preconceitos, pois somente assim é que se pode obter claridade. E isto é uma das coisas mais delicadas de se fazer.
O que quer que lhe negue a visão da Verdade tem que ser eliminado juntamente com as noções limitadoras e preconceitos que você tem sobre si mesmo. Então, você se condena, deste jeito: “Eu sou inútil”, “Eu não valho nada”; bem, isto se trata de uma auto condenação que está no caminho do conhecimento do que você é.
Quando um guru aparece e diz que você é sat, cit e ananda, que você é pleno, que é o centro da criação e que não há nada além de você, isto é uma coisa muito bela que logo se percebe. Não apenas belo; mas, mais do que isso: “A tão profunda Verdade que eu sou, que não me falta nada e que eu sou tudo o que busco” é uma descoberta impressionante.
Quem pensaria que ele ou ela poderia ser tudo isso? Como eu poderia sequer imaginar que o que eu estou procurando na vida sou eu mesmo? Pelo fato de eu estar procurando isto, eu não consigo imaginar que isto já sou eu mesmo. E assim, a Verdade é ouvida, mas não assimilada. Para aqueles que parecem seguir o que o guru diz, enquanto o guru está falando, tudo parece ser claro. Então, você chega à conclusão: “Isto é Verdade. Isto é Verdade”. E, o guru se vai e a ananda que você sentiu e tudo o que ele disse, também se vai. Mas, quando ele vem, a ananda vem, quando ele se vai, a ananda se vai. E aí, você começa a duvidar sobre o que você entendeu: “O swami me hipnotizou?” Eu acho que ele me fez acreditar que eu sou maravilhoso. Se eu me senti bem e maravilhoso, por que não me sinto bem e maravilhoso agora?
Esta é aquela velha confusão entre conhecimento e experiência. Se o hipnotismo pudesse fazer isso, eu não precisaria ensinar deste jeito. Eu só precisaria dizer desde o primeiro dia em diante,“Vocês são todos felizes, vocês são todos alegres, vocês são todos alegres, vocês são todos alegres...” E isto é o que chamamos de hipnotismo, o que não funciona.
A totalidade do conhecimento está se revelando como o artista que faz você ver beleza em algo que você geralmente considera banal; e, então, o professor faz com que você se enxergue. Ele não traz a própria experiência, mas a conta, se utilizando da sua experiência como base do ensinamento e isto faz com que você veja a verdade da experiência. Ou seja, isto consegue trazer a assimilação em termos de conhecimento da experiência de você mesmo e então, isto não é hipnotismo.
Se isso é conhecimento, por que ele parece não querer ficar para me servir? Não me serve porque a mente continua sendo a mesma velha mente com todos os gostos e aversões as quais são coletadas por muitos anos e que não se vão da noite para o dia. Anteriormente, nós éramos agitados; após ouvir o ensinamento, nós novamente sofremos alguns momentos de tristeza, de frustração, de mágoa, de raiva e o que nós não queremos que aconteça, continua acontecendo. Então, a mente continua a dizer, “Eu quero me ver como um Ser pleno o tempo todo!” Bem, certamente, eu sempre sou um Ser pleno, mas me esqueço disso. No dia a dia, este conhecimento não me parece servir e portanto, isto parece não fazer mais parte da minha vida. Então, o que eu posso fazer?


O SILÊNCIO POR SI SÓ
Eu já devo saber que eu sou a Verdade de todo pensamento. Mesmo que o pensamento seja de agitação ou de felicidade, eu sou a Verdade do pensamento. Um pensamento não tem existência sem mim. Ele existe apenas como uma reflexão do meu próprio Eu radiante. Ele é algo que brilha atrás de mim, como a Lua brilha depois do Sol e portanto um pensamento não pode me incomodar. Ele depende de mim; se, pelo contrário, eu for o pensamento, então, qualquer que seja a condição da mente é a minha própria condição. E, se a mente estiver inquieta, eu estou inquieto.
A mente passa por mudanças e a mente se predispõe a passar por mudanças. Assim, eu deveria me perceber e mudar os pensamentos como uma pessoa que é todo silêncio; como o ouro que apesar de num certo momento ser uma corrente, a corrente é toda ouro. Não é necessário tornar-se um anel para ser considerado como ouro. Mesmo que seja uma corrente ou um anel ou uma pulseira é o ouro puro o tempo todo.
Uma vez que eu perceba isso, o pensamento (ou a corrente) é mithya, o aparente, então o aparente não pode causar um problema. Assim, eu posso e devo me perceber não na ausência de pensamentos; mas sim, mesmo que haja pensamentos. E, então, isto é chamado de meditação.
O que é aquele “Eu” imutável que é para ser notado apesar dos pensamentos? Aquele “Eu” é o silêncio. Aquele “Eu” é felicidade. Aquele “Eu” é plenitude. Aquele “Eu” é liberdade. Não falta nada. É sempre livre, o livre, o silencioso Ser. Agora, o silêncio que é o Ser não é algo que é diferente de mim.
Eu posso obter silêncio sempre? Não. Eu sempre posso recuperar o silêncio? Não, porque eu sou o silêncio. Eu não preciso fazer nada para recuperar o silêncio. Nem posso ganhar o silêncio porque não é algo que vem e vai.
A agitação vem e vai. Todos aqueles pensamentos os quais parecem destruir o silêncio – eles vem e vão. Mas o silêncio é algo que sempre permanece, antes da agitação, sob agitação e depois da agitação. Quando a agitação passa, eu sou silêncio. Porque geralmente eu sou agitação e isto se parece com o silêncio que vem e vai.
Na Inglaterra onde é nublado o tempo todo, parece que o Sol está vindo e indo. Na verdade, o Sol não vem e vai. São as nuvens que vem e vão e o sol sempre permanece. Similarmente, as nuvens na minha mente vão embora e eu me vejo em silêncio. Elas retornam e então parece que eu me perco. É assim que acontece, o silêncio nunca se afasta de mim.
Como o objetivo de aprender alguma coisa, eu devo permanecer em silêncio, senão o aprendizado não pode acontecer. Porque eu sou silêncio agora e depois, eu adquiri algum conhecimento. Mas se eu tentar absorver alguma coisa quando eu tenho muitos pensamentos na minha mente, nada vai acontecer. Nem mesmo uma coluna de jornal irá fazer sentido porque a minha mente já está ocupada. Quando a mente está preocupada eu não posso aprender nada de novo.

MUDANDO PENSAMENTOS
Eu sei que o silêncio não é algo desconhecido para mim. Parece que apenas vem e vai porque os pensamentos surgem para causar agitação. Então, eu tomo os pensamentos como meus e me torno agitado devido ao pensamento mecânico. A profunda acumulação de gostos e desgostos das idéias indigestas e não assimiladas causam muitos conflitos e frustrações que faz com que a mente se torne mecânica. Ela reage tanto quanto age. Uma vez que um pensamento vem e este pensamento me leva para um outro pensamento e este pensamento novamente me leva para um outro pensamento, eu experimento um período de agitação.
Neste pensamento descuidado e mecânico eu tomo o referido pensamento como se fosse eu mesmo. Eu me esqueço. Então, quando o pensamento se vai, eu inesperadamente me volto para mim e extraio um momento de silêncio. Então, o silêncio aparece por aparecer e vem e vai. Mas, se eu analisar isso, o problema não é o de descobrir o silêncio, mas o de destruir o pensamento mecânico.
Um pensamento vai e vem. Antes que ele veio, houve o silêncio e depois de ele ir também há o silêncio. Novamente, após um outro pensamento, há o silêncio. Entre os pensamentos há o silêncio. O silêncio não é algo pelo que eu tenha que me esforçar para obter. Pensamentos vem e vão. O silêncio sempre é. E, eu ainda o perco. O que isto significa? Eu o perco porque eu prossigo nos pensamentos e sou levado pelos pensamentos. Eu perco o silêncio quando há aumento de pensamentos e assim cria-se um encanto. E se eu prossigo nos pensamentos, eu não me aterro e minha mente por alguma associação pula de um pensamento para outro.
A associação pode ser desde um simples som até mesmo uma rima e o significado de uma palavra pode também trazer um certo número de palavras à mente. Como o macaco que salta e pega o próximo galho, eu também pego o primeiro pensamento e abandono o último. É por isso que a mente é chamada de macaco. Eu devo aprender a quebrar o encanto desta tendência mecânica dos pensamentos e descobrir o silêncio entre dois pensamentos e isto deve se tornar uma prática para mim. Então, eu deveria me prover com uma situação na qual eu possa desenvolver uma aptidão de estar comigo mesmo apesar do pensamento. E, esta situação especial é chamada de meditação.
O que é meditação? Eu medito quando removo todos os pensamentos? Suponha que eu tente remover todos os pensamentos. Então, o que acontece quando um pensamento vem? O silêncio se vai. Então, eu vou me envolver num problema, porque a chegada de um pensamento se torna um problema.
Eu posso ter uma mente que nunca pensa? Eu deveria sempre pedir a Deus: “Oh, Deus me dê uma mente que nunca pense.” Então, por que ele deveria me dar uma mente que não pensa? A mente é feita para pensar e pensar não cria problemas. É uma benção que é dada à mente.
Para transformar um pensamento em pesadelo, é a coisa mais tola que uma pessoa possa fazer. Se você achar que a ausência de pensamento é meditação ou ver coisas engraçadas é meditação, eu diria que isto é maditation. Ver coisas engraçadas não é meditação, remover pensamentos não é meditação. Se eu teimar em remover todos os pensamentos, eu vou ficar frustrado e me condenar como inútil porque eu não posso fazer isso. E, tentando ser “espiritual”, eu me torno tão frustrado que me transformo numa pessoa impossível de se conviver. E, eu não posso suportar qualquer coisa que aconteça, devido a pensamentos que se criam em mim.

DESENVOLVENDO A HABILIDADE
Qualquer processo de pensamento é uma corrente de muitos e variados pensamentos. Nesta corrente existe sempre a probabilidade de se deixar levar pelos pensamentos, o que é uma forma superficial, reativa e mecânica de pensar. Mas, agora, eu vou fazer alguma coisa com a minha mente com a qual eu terei muitos pensamentos e, ao mesmo tempo, eu vou descobrir o silêncio entre os pensamentos.
Como eu faço isso? Ao invés de ter muitas variedades de pensamentos, eu crio pensamentos que são muitos em número, mas todos são idênticos. Se o segundo pensamento é como primeiro e o terceiro é como o segundo, nenhuma corrente atraente de pensamento é criada. Não há nenhuma associação, nenhuma conexão. Apenas pensamento-espaço, pensamento-espaço, pensamento-espaço. Após o primeiro pensamento, o que há? Silêncio. E após o segundo pensamento? Silêncio. E após o terceiro pensamento? Silêncio. E após o quarto pensamento? Silêncio.
O que eu estou fazendo agora? Aprendendo. Aprendendo o que? A habilidade. De que? De estar em silêncio. Entre o que? Pensamentos. Isto é uma habilidade como aprender a andar de bicicleta ou a nadar. Aquele único pensamento pode ser repetido como uma palavra. O que deveria ser esta palavra? Deveria ser significativa ou insignificante? Se eu pegar uma palavra insignificante e começar a repeti-la, a mente vai me dizer que eu estou fazendo uma coisa insignificante. Então, eu deveria escolher uma palavra significante, algo representando o todo, o âmago da criação. Algo que não seja uma das coisas na criação.
E por que é uma palavra que é muito significante para mim, o ensinamento inteiro pode ser visto naquela simples palavra. Qualquer palavra que você reconheça o nome do Senhor, uma palavra que ao repeti-la, faça você se sentir grato, é ideal. Deveria ser uma palavra muito significante na qual você esteja incluído.
Uma palavra que pode ser como OM, uma palavra que inclui tudo, tanto no seu significado como em seu som. Ele tem os sons “A” “U” “M”, sendo que “A” vale pelo o acordado/atento, uma palavra física; “U” vale pelo o pensamento infinito; “M” vale pelo o não manifesto. Portanto, toda a criação e a sua base são todas trazidas nesta única silaba OM.
A palavra que você escolher pode ser uma outra. Ela poderia ser Jesus, ou você pode dizer “Om namaþ śivāya.” Namaþ significa, “Eu saúdo”. Siva significa, tudo que for auspicioso, o que significa tudo o que é ananda. Então, “Ao senhor eu ofereço as minhas saudações.” Estas palavras formam uma oração. Seu eu precisar delas, estas palavras são muito úteis. E desde que a palavra seja significativa, pode ser qualquer uma.
OM, OM, OM. Há alguma conexão entre eles? Não, porque cada um é completo. O pensamento é o mesmo, mesmo que seja repetido muitas vezes. E a repetição deve estar lá. Por quê? Por que não ter apenas um único OM? Porque a fim de descobrir o silêncio entre os pensamentos, eu devo necessariamente ter muitos pensamentos, mas não pensamentos variados. Para ter pensamentos variados, significa que os pensamentos formam uma corrente e eu não descobrirei o silêncio numa corrente de pensamentos.
Então, eu me alimento com um único pensamento muitas vezes. Assim, eu não crio uma corrente, mas noto um grande número de pensamentos, ao mesmo tempo. O primeiro não é diferente do segundo e o segundo não é diferente do terceiro. Então, eu me provenho com uma situação, na qual eu descubro o silêncio entre os pensamentos e assim eu não posso perdê-lo.
Quando eu canto OM, o que vem depois? Silêncio. OM. Silêncio. OM. Silêncio. E eu faço isso tudo no sentido de notar que eu sou silêncio apesar de ter dois pensamentos sucessivos. E esta nova ocupação, chamada meditação, me ajuda a descobrir com tranqüilidade que eu sou sempre o mesmo.
Apesar de todas as ações realizadas, as percepções se unem e os pensamentos se distraem e eu mantenho o mesmo Ser livre que é o silêncio e sem a menor ação.
OM TAT SAT.

Transcrito e editado por Lynn Del Cotto e Dorothy Brooks durante uma série de palestras sobre meditação com Swami Dayananda Saraswati realizada em San Francisco, em novembro de 1978. Publicado pelo Arsha Vidya Gurukulam, como souvenir do 10º aniversário, em 1996.
Traduzido por Humberto Meneghin: http://yogaemvoga.blogspot.com/.

Retirado do site http://yoga.pro.br/

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